Livro de horas ( Letra, Miguel TORGA ) ( Música 2010, Valentin ) Aqui, diante de mim, Eu, pecador, me confesso De ser assim como sou. Me confesso o bom e o mau Que vão ao leme da nau Nesta deriva em que vou. Me confesso possesso Das virtudes teologais, Que são três, E dos pecados mortais, Que são sete, Quando a Terra não repete Que são mais. Me confesso o dono Das minhas horas. O das facadas Cegas e raivosas E o das ternuras lúcidas E mansas. E de ser de qualquer modo Andanças Do mesmo todo. Me confesso de ser charco E luar de charco, A mistura. De ser a corda do arco Que atira setas acima E abaixo da minha altura. Me confesso de ser tudo Que possa nascer em mim. De ter raízes no chão Desta minha condição. Me confesso De Abel e de Caim. Me confesso de ser homem. De ser um anjo caído Do tal céu Que deus governa. De ser um monstro saído Do buraco mais fundo Da caverna. Me confesso de ser eu. Eu, tal e qual como vim Para dizer que sou eu Aqui, diante de mim! | Livre d'heures ( Texte, Miguel TORGA) ( Musique 2010, Valentin ) Ici, devant moi, Moi, pécheur, je confesse Être comme je suis. J'avoue le bon et le mauvais Allant à la barre du navire Dans cette dérive où je vais. Je confesse posséder Des vertus théologales, Qui sont trois, Et des péchés mortels, Qui sont sept, Quant la Terre ne répète pas Qu'ils sont davantage. Je me confesse le propriétaire De mes heures Celui des coups de couteaux Aveugles et coléreux Et celui de la tendresse lucide Et calme Et de toutes les façons, Faire parti D'un tout. Je confesse être un étang Et de l'étang, Le mélange du clair de lune. Être la corde de l'arc Tirant les flèches au dessus Et en dessous de ma taille. Je confesse être tout Ce qui peut naître en moi. Avoir des racines dans le sol De ma propre condition. Je me confesse D'Abel et de Caïn. Je confesse être un homme. Être un ange déchu Du fameux ciel Que Dieu gouverne, Être un monstre sorti Du plus profond trou De la caverne. Je confesse être moi-même. Moi, tel que je suis venu Pour dire que je suis moi Ici devant moi ! | Book of hours ( Text, Miguel TORGA) (Music 2010, Valentin) Here, before myself, I, the sinner, confess To be as I am. I admit the good and the bad Going at the helm of the ship In that drift I go to. I confess I have Theological virtues, That are three, And mortal sins, That are seven , When the Earth will not repeat They are more. I confess I am the master Of my hours. That of stabs of the knife Blind and angry And that of lucid And quiet tenderness And in any ways, Be a part Of the same whole. I confess I am a pond And, of the pond, The mix of moonlight, I am the string of the bow Shooting arrows above And below my waist. I confess I am everything That can be born in me. I have roots in the ground Of my own condition. I confess I am from Abel and Cain I confess I am a man. I am a fallen angel From the famous Heaven That God govern, I am a monster gone out Of the deepest hole Of the cave. I confess I am myself. Myself, as I came To tell it is me Here before myself! |